segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Salvador me ganhou o corpo. Você aí que lê saberá sentir o que digo no entre destas palavras? Estive longe daqui, no entanto, transborda tanto o balanço daquela cidade: das pessoas à dedicação das senhoras em manter as flores de santa bárbara no andor. Tanto transborda que agora lanço no espaço sideral, no cinema transcendental os lampejos da memória destes dias, alumiares que escorrem pelos dedos. Chegado na segunda, comi o acarajé da baiana pedindo proteção e boas guianças. Laroyê. Curioso e incentivado por uma irmã, larguei programações para devotar meus agradeceres e quereres à santa bárbara e a iansã de rebarba ou de sincrético-fazer, dependendo do ponto de vista. A devoção me tremeu a boca, me molhou o corpo numa enxurrada de alegria e abraços. Salvador vida louca, caminhaste por mim em alguma dessas ladeiras assanhadas por brisas marítimas, por buliços das vozes e pelo fel elaborado nas férreas mãos coloniais de sempre. Arre! Asè! Evoé! Sem muita chance para lamentos, os encontros foram sendo costurados na escuta, no olhar e no espaço dos desejos de se dar, de se estar atento àquilo que não se vê mas que se sente. Arre! Doce de banana! Salve amizades novas, salve a bagunça do pensamento, salve a tentativa de sair da norma entrando nela novamente sem querer estar nela, salve a sinceridade dos pormenores, salve a praia de noite, salve as ruas, os bares debaixo de árvores, salve as caminhadas, um salve ao suor das conversas sobre dança, arquitetura e cobogós, sobre poesia e práticas, salve os abraços vindouros de um deliciamento com o nosso corpocidade. Um salve aos silêncios. Salve Salvador. Salve Teia e toda essa força de enredar olhares curiosos e apetitosos, só agradeço. Outro salve às danças na praça, às perambulações por dentro dos dutos e redutos. Um ressalve à mesa debatedora que entre caras e bocas, salvou-se pela sinceridade, ainda que muitas vezes estivesse quase só seu fazer-mesa. O quase último salve vai às pessoas com quem estive sem saber nome, procedência e fazer, com elas tive conversas ricas sobre a força da vida, sobre a manha de se viver, sobre a ginga no agir, sobre a maciez e o apimentamento nas prosas. Salvador me mora com seus desníveis, aclives e deslizes, com suas paredes caiadas, me mora com suas janelas e pixos. Me mora, Salvador. Quero voltar.

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