a pouco tempo atrás éramos tao diferentes
e agora é esse tanto de gesto sobrando
essas emoções deslocadas
esse monte de coisas caindo
adubando
mudando e meio sem jeito
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
sábado, 1 de junho de 2019
Me afastei disso daqui para não mais alimentar o ódio meu e de outras pessoas. Me afastei para não mais alimentar o desejo de bomba na vidraça do banco, carro virado na via, pedra pra cima da polícia. Me afastei e afastei minha poesia dessa trilha. Agora vejo filas de carros no posto de gasolina e rio; vejo gente estocando coca-cola e rio; vejo gente até hoje apertando os dentes pra reclamar da esquerda e rio. É verdade que rio meio atônito, meio perverso, meio inocente, meio demente. Rio pq sou rio kkkk. Abandonei as farpas, os cacos de vidros, os cabos de guerra, ainda assim, uma porção miúda e antiga me diz guerra, uma outra porção racional me lembra que a disciplina dos dias me garantirá alimento para depois do dia 15, portanto, ria; guerra demanda energia, combustível, alimento. Rio do alto de minha bicicleta de correntes desgastadas. Rio sem computador. Rio sem dinheiro. Rio dos que não riem. Rio com os que riem. Rio até dos que riem de mim. Só não rio do homem dormindo no parque infantil da praça - isso não tem graça. A verdade é que estou ocupado de olhar ossos, músculos, pele e de apurar os sentidos, e de escrever marmotas nas folhas espalhadas pelo quarto e de saber os motivos que levaram a terra do quintal a abrandar sua força. Meio que abandonei isso aqui, veneninho diário. Meio que este será um último texto, abandonado de sanha, abandonado de fúria, abandonado e risonho. Irrisível, enfim.
quarta-feira, 6 de março de 2019
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
COGITO - Torquato Neto
eu sou o que sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do possível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos segredos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim
eu sou o que sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do possível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos segredos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim
Revolución - Saúl Yurkievich
Las sillas se sentarán sobre nosotros
las perchas se nos colgarán
los pisos habrán de arrastrarnos
seremos empujados por las puertas
pateados por las pelotas
tirados por las barajas
arrugados por los papeles
mojados por los pañuelos
encendidos por los fósforos
disueltos por los azúcares
revueltos por las cucharas
bebidos por el agua
y no será más que justicia.
Las sillas se sentarán sobre nosotros
las perchas se nos colgarán
los pisos habrán de arrastrarnos
seremos empujados por las puertas
pateados por las pelotas
tirados por las barajas
arrugados por los papeles
mojados por los pañuelos
encendidos por los fósforos
disueltos por los azúcares
revueltos por las cucharas
bebidos por el agua
y no será más que justicia.
Olho de lince - Wally Salomão
quem fala que sou esquisito hermético
é porque não dou sopa estou sempre elétrico
nada que se aproxima nada me é estranho
fulano sicrano beltrano
seja pedra seja planta seja bicho seja humano
quando quero saber o que ocorre à minha volta
ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
experimento invento tudo nunca jamais me iludo
quero crer no que vem por aí beco escuro
me iludo passado presente futuro
urro arre i urro
viro balanço reviro na palma da mão o dado
futuro presente passado
tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo
é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão
e na sequência de diferentes naipes
quem fala de mim tem paixão
quem fala que sou esquisito hermético
é porque não dou sopa estou sempre elétrico
nada que se aproxima nada me é estranho
fulano sicrano beltrano
seja pedra seja planta seja bicho seja humano
quando quero saber o que ocorre à minha volta
ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
experimento invento tudo nunca jamais me iludo
quero crer no que vem por aí beco escuro
me iludo passado presente futuro
urro arre i urro
viro balanço reviro na palma da mão o dado
futuro presente passado
tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo
é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão
e na sequência de diferentes naipes
quem fala de mim tem paixão
você conseguiria deixar ir embora por alguns instantes qualquer
pensamento que te pareça crítico? qualquer um. tome por crítico o
pensamento dialético, semiótico, estrombólico que te faz sentir e até
acreditar que pensando assim você se faz menos alienado. você
conseguiria? dois segundinhos de algo macio, pode ser? você conseguiria
ir além? a palavra hiroshima, por exemplo. você sabe, eu sei que você
sabe que esta palavra te faz pensar em bomba. ok, mas
você sabe ou saberia me dizer o que significa esta palavra antes da
bomba assumir o lugar da palavra? o engraçado é que ela continua tendo a
mesma origem e no entanto só fica existindo esse desespero em torno da
palavra. o que vc sabe sobre hiroshima? não, não estou te pedindo pra
fingir que nada aconteceu, só estou te convidando a largar um pouco este
sentido único. um pouquinho e é certo que você não deixará de ser esta
pessoa sensata, crítica, altamente capacitada a revelar a realidade crua
e mortífera da vida cheia de contradições e tals. você consegue. em
hiroshima tem criança, tem árvore, rio, bicho, idoso e idosa, tem céu
azul e tem zoológico. você conseguiria ser um animal sem destruir alguma
coisa, sem se destruir tanto? pense no azul. agora numa flor amarela.
você consegue pensar nestas coisas largando a culpa de estar agindo como
uma criança? um sorriso. você consegue pensar num sorriso? em dois? e
em muitos?
O nome Hiroshi tem origem Japonês. Derivado do nome pessoal HIROSHI que significa Adora ter harmonia e beleza em torno de si.
Shima significa ilha em Japonês.
Hiroshima = Ilha Harmoniosa.
Shima significa ilha em Japonês.
Hiroshima = Ilha Harmoniosa.
rebentação é onde a vida diz sim
redobrando-se ferozmente
para cavocar tudo,
impulsionando e sendo impulsionada
em todas as direções
repara
redobrando-se ferozmente
para cavocar tudo,
impulsionando e sendo impulsionada
em todas as direções
repara
não
não quero negar que a rebentação humana
é um calvário imenso,
uma luta onde a espada aperta
nossas gargantas
não, não é isso
há de vir a revolta
no entanto,
a atenção aqui está é no macio e no corte do tempo
nos instantezinhos
em que se faz levantar o dia após
dia
no que nos lança e relança
a todo momento
em todas as direções.
tô falando de rio e de margens que apertam
apertam? ou participam da força do rio?
tô falando é de nunca mais ser o mesmo
depois de entrar nesse rio.
repara só
não quero negar que a rebentação humana
é um calvário imenso,
uma luta onde a espada aperta
nossas gargantas
não, não é isso
há de vir a revolta
no entanto,
a atenção aqui está é no macio e no corte do tempo
nos instantezinhos
em que se faz levantar o dia após
dia
no que nos lança e relança
a todo momento
em todas as direções.
tô falando de rio e de margens que apertam
apertam? ou participam da força do rio?
tô falando é de nunca mais ser o mesmo
depois de entrar nesse rio.
repara só
No se trata de hablar... (Poesía Vertical VIII - 2) - Roberto Juarroz
No se trata de hablar,
ni tampoco de callar:
se trata de abrir algo
entre la palabra y el silencio.
No se trata de hablar,
ni tampoco de callar:
se trata de abrir algo
entre la palabra y el silencio.
Quizá cuando transcurra todo,
también la palabra y el silencio,
quede esa zona abierta
como una esperanza hacia atrás.
Y tal vez ese signo invertido
constituya un toque de atención
para este mutismo ilimitado
donde palpablemente nos hundimos
también la palabra y el silencio,
quede esa zona abierta
como una esperanza hacia atrás.
Y tal vez ese signo invertido
constituya un toque de atención
para este mutismo ilimitado
donde palpablemente nos hundimos
aos que não fustigam sombras nem luz
aos que cambaleantes erguem-se de derrapadas no asfalto duro e monótono
aos que reluzem de dentro do pó
aos que se fazem já do que era muito antes: futuro-agora
a todas y todas
sem-graçamente engraçados
estupidamente desalinhados,
não menos contentes por isso.
aos que navegam sem se assanhar com impiedades
aos que sorriem tendo pouco,
sonhos e mais sonhos
desejo todos os sonhos realizados
todas as realidades sonhadas
todas as impossibilidades possibilitadas.
aos que já a morte tenha tocado na tangente,
vida,
lhes desejo aquela vida
uma vida daquelas
fulgurosa e gozante
que brilha para mais além
que ultrapassa bandeiras;
um cometa assim,
tipo traço forte que se faz
tocante e nosso. a todas y todos assim,
assombrosamente luminosos.
aos que cambaleantes erguem-se de derrapadas no asfalto duro e monótono
aos que reluzem de dentro do pó
aos que se fazem já do que era muito antes: futuro-agora
a todas y todas
sem-graçamente engraçados
estupidamente desalinhados,
não menos contentes por isso.
aos que navegam sem se assanhar com impiedades
aos que sorriem tendo pouco,
sonhos e mais sonhos
desejo todos os sonhos realizados
todas as realidades sonhadas
todas as impossibilidades possibilitadas.
aos que já a morte tenha tocado na tangente,
vida,
lhes desejo aquela vida
uma vida daquelas
fulgurosa e gozante
que brilha para mais além
que ultrapassa bandeiras;
um cometa assim,
tipo traço forte que se faz
tocante e nosso. a todas y todos assim,
assombrosamente luminosos.
Os jardins alados da humilde casa fremem com o roçar da brisa primaveril
do pleno inverno sub-tropical. A dispersão das sementes feitas ao léo
compõem um jardim pobre aos que procuram o belo em arquiteturas sóbrias.
Os jardins alados da humilde casa explodem em verdes rasteiros, em
miúdas repetições, únicas em si e corais no chão destas memórias que
habitam o vazio do agora. As pequenas flores roxas tremem no gozo da
manhã, abrem suas boquinhas ao céu em trios, duos, coros de boca-arriba.
São jardins caóticos onde a borboleta mañanera passeia atravessando
bifurcações de galhos, ramos de erva-daninha, maços de mirra curandeira
em flor; mariposa amorosa e roçadeira, visitante fugaz e gentil. Suave.
Trecho de Clarice
Não abro mão de Clarice Lispector. Ela salvando os dias de sempre:
Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o
que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma
coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar
a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporoua. O que salva então é escrever distraidamente.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer
sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o
que não é palavra. Quando essa não-palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma
coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar
a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporoua. O que salva então é escrever distraidamente.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer
sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Estou correndo
Sentes?
Debaixo dos pés nada existe e tudo sustenta
Sentes?
Continuo no trote, patadas no ar em breves vôos
Sentes?
Sigo escorrendo, singrando futuros imediatos
Vês?
Cada palavrinha é um vento
Sentes?
O brilho das patas
O calor ardente dos pulmões
A fresco do ar na boca
Sentes?
Estamos correndo
Agora vês?
Cada trote, um laço interminável de futuros-antes
Muito antes, nós
Cada qual esperando sem saber da espera
Muito antes
Chegada a hora,
Estamos correndo
Sentes?
É quase sol no leste
O frio na pele
A queimada no coração
O quase quente do astro nascente
Estamos correndo para o sol
E não sabemos
Vés?
Sou selva na seiva de nossas bocas
E sei que cada você sente
Sonha e sente
Sonha em sentir
E Sonha em correr
Corre e sente
Sentes?
Debaixo dos pés nada existe e tudo sustenta
Sentes?
Continuo no trote, patadas no ar em breves vôos
Sentes?
Sigo escorrendo, singrando futuros imediatos
Vês?
Cada palavrinha é um vento
Sentes?
O brilho das patas
O calor ardente dos pulmões
A fresco do ar na boca
Sentes?
Estamos correndo
Agora vês?
Cada trote, um laço interminável de futuros-antes
Muito antes, nós
Cada qual esperando sem saber da espera
Muito antes
Chegada a hora,
Estamos correndo
Sentes?
É quase sol no leste
O frio na pele
A queimada no coração
O quase quente do astro nascente
Estamos correndo para o sol
E não sabemos
Vés?
Sou selva na seiva de nossas bocas
E sei que cada você sente
Sonha e sente
Sonha em sentir
E Sonha em correr
Corre e sente
estou selva, fagulha,
filomena nos passos do aço.
estou açude e carrapato do burro. estou.
estou como nunca fui sendo. cortante.
haste de vidro na polpa de seus olhos,
seiva na boca de suas botas. molhadas. sonoras.
arre! foda-se hoje razões e planos,
ezquizemos infinitamente. até o fim sem fim.
um salve. um salve. um salve aos alucinados.
um salve aos que nas esquinas sonham
sem serem incomodados por opiniões.
um salve aos que só são
nas esquinas da cidade,
ilha.
filomena nos passos do aço.
estou açude e carrapato do burro. estou.
estou como nunca fui sendo. cortante.
haste de vidro na polpa de seus olhos,
seiva na boca de suas botas. molhadas. sonoras.
arre! foda-se hoje razões e planos,
ezquizemos infinitamente. até o fim sem fim.
um salve. um salve. um salve aos alucinados.
um salve aos que nas esquinas sonham
sem serem incomodados por opiniões.
um salve aos que só são
nas esquinas da cidade,
ilha.
criar uma casa sem muitas portas, com algumas paredes quase inexistentes
pois sozinho também se cria o junto. emplacar flores de todas as formas
sobre as mesas carregadas de memórias. observar e viver a vida que
sorve as flores em distintas formas. aparar as arestas da história num
pequeno gesto nada humilde de reconciliar-se com o amor, ainda que nada
esgote o desprezo pelas formas destruídoras de amizades. redobrar o
deixar-se, ainda que as forças biliares incendiadas pelo medo de ser
outro atuem nas bordas dos encontros. tô pra jogo. tô pra mil casas
ainda que na forma ainda me doa ser quadrado nos instantes mais
suculentos. é erro e caminho novo, de novo. construir casas, tombar
impérios, destruir alguns muros e proteger-se nos labirintos do que não
poderá nunca ser intitulado. tô pra jogo nesse erro todo.
Salvador me ganhou o corpo. Você aí que lê saberá sentir o que digo no
entre destas palavras? Estive longe daqui, no entanto, transborda tanto o
balanço daquela cidade: das pessoas à dedicação das senhoras em manter
as flores de santa bárbara no andor. Tanto transborda que agora lanço no
espaço sideral, no cinema transcendental os lampejos da memória destes
dias, alumiares que escorrem pelos dedos. Chegado na segunda, comi o
acarajé da baiana pedindo proteção e boas guianças.
Laroyê. Curioso e incentivado por uma irmã, larguei programações para
devotar meus agradeceres e quereres à santa bárbara e a iansã de rebarba
ou de sincrético-fazer, dependendo do ponto de vista. A devoção me
tremeu a boca, me molhou o corpo numa enxurrada de alegria e abraços.
Salvador vida louca, caminhaste por mim em alguma dessas ladeiras
assanhadas por brisas marítimas, por buliços das vozes e pelo fel
elaborado nas férreas mãos coloniais de sempre. Arre! Asè! Evoé! Sem
muita chance para lamentos, os encontros foram sendo costurados na
escuta, no olhar e no espaço dos desejos de se dar, de se estar atento
àquilo que não se vê mas que se sente. Arre! Doce de banana! Salve
amizades novas, salve a bagunça do pensamento, salve a tentativa de sair
da norma entrando nela novamente sem querer estar nela, salve a
sinceridade dos pormenores, salve a praia de noite, salve as ruas, os
bares debaixo de árvores, salve as caminhadas, um salve ao suor das
conversas sobre dança, arquitetura e cobogós, sobre poesia e práticas,
salve os abraços vindouros de um deliciamento com o nosso corpocidade.
Um salve aos silêncios. Salve Salvador. Salve Teia e toda essa força de
enredar olhares curiosos e apetitosos, só agradeço. Outro salve às
danças na praça, às perambulações por dentro dos dutos e redutos. Um
ressalve à mesa debatedora que entre caras e bocas, salvou-se pela
sinceridade, ainda que muitas vezes estivesse quase só seu fazer-mesa. O
quase último salve vai às pessoas com quem estive sem saber nome,
procedência e fazer, com elas tive conversas ricas sobre a força da
vida, sobre a manha de se viver, sobre a ginga no agir, sobre a maciez e
o apimentamento nas prosas. Salvador me mora com seus desníveis,
aclives e deslizes, com suas paredes caiadas, me mora com suas janelas e
pixos. Me mora, Salvador. Quero voltar.
a
subjetividade aqui é a milhão. só xs fortes subalternizaxos que vivem
nas periferias das periferias do mundo sabem disso e repito: a
subjetividade aqui é a milhão. porta de buteco pra selar a paz nos
corações dxs que não tem
paz. farra e dança en la calle, titi! só pra quem dá conta de enfrentar liões. saudade dessa cidade é mato! pode vir de bonde que aqui nóis enfrenta tudo. quem é daqui sabe, bem daqui que já foi mato e hoje é metrópole, sabe que o jogo é jogado e que a paz é algo de paisagem, pero titi, o sangue precisa correr quente nas veias de quem é de uma lida monumental. a subjetividade dxs que nadam aqui contra a corrente é a milhão e nem venha querer tirar uma di grandão pros nossos lados. Arre!
em Goiânia
paz. farra e dança en la calle, titi! só pra quem dá conta de enfrentar liões. saudade dessa cidade é mato! pode vir de bonde que aqui nóis enfrenta tudo. quem é daqui sabe, bem daqui que já foi mato e hoje é metrópole, sabe que o jogo é jogado e que a paz é algo de paisagem, pero titi, o sangue precisa correr quente nas veias de quem é de uma lida monumental. a subjetividade dxs que nadam aqui contra a corrente é a milhão e nem venha querer tirar uma di grandão pros nossos lados. Arre!
em Goiânia
ei são paulo, terra de arranhacéu! da ponte pra cá é uma paulista que me
deixa com receio de tocar as pessoas, que faz das articulações uma
fechadura. cheguei caminhando pelo viaduto santa Ifigênia, cai nas
bordas da 25 e mudando de rua passei pelo largo da memória. aqui não é
salvador. cidade dura. cadê a graça da música de caetano? atravessei o
chá, o municipal pra baixar no metrô da república. é clichê mas é isso,
gente de todo lugar e minhas articulações continuam apertadas,
trancadas. foi em vão saltar no masp, entrada cara. foi decidido que
caminharia pela paulista no sentido consolação. primeiro uma mina
acompanhada de um saxofonista arraza o passeio cantando rihanna. foda!
depois um quarteto: uma violinista negra, um violinista cego, um
cellista negro e um cantor jovem argentino e gay mandam uma ópera
fodidamemte linds no meio da avenida dos patos. o cantor esbanjando sua
feminilidade e a gente babando. ganhou o público! segui. subi no alto do
sesc e não achei muita graça em ver um mar de prédio, prefiro o mar de
água salgada ou uma montanha no meio do mato. desci correndo pra me
encontrar com salvador dentro do centro cultural de um banco que andei
dando calote. Era o Ilê Aiyê balançando meu coração e me transportando
de volta pra Salvador. Não sou de terreiro mas saí num axé danado.
Voltei por onde vim prs encontrar com a Augusta, lugar que nunca me faz
sentir graça (desculpa aí habitués de lá). Cheguei na Roosevelt e só
constatei um pouco mais da dureza do lugar: gente dormindo no chão,
gente bebendo cerveja sem olhar no olho da gente. Saí fora, passei pela
Mario de Andrade já de retorno pra estação república. Sem mais, desci na
Luz pra pegar a linha azul até a Zona Norte onde dizem que a banca a
forte. São Paulo é pro fortes e pro fracos. Tudo parece doer como numa
canção do Itamar ou da Gal, ainda assim, fico com o Zeca Pagodinho: vida
leva eu nesse 2019 de poucas esperanças na televisão e de muita gente,
inevitavelmente, na rua quer queira quer não. Arre!
eu quero te conhecer
e você, me gostaria?
eu gosto de te conhecer
trabalhador, gente da rua,
gente de casa, gente com grana,
gente sem nada.
eu quero te conhecer.
gente pessoa, gente gato,
gente cachorra. adoro
gente cachorra.
e você, me gostaria conhecer?
sentados num banco, numa sarjeta,
num sofá, nas bordas da cidade.
eu quero te conhecer no centro.
e você, me quer conhecer no talo?
num apartamento, num cruzamento
do olhar. quero te conhecer sendo chato.
e você, me quer conhecer?
não importa onde, só conta mesmo
a curiosidade de saber como a gente
se movimenta.
mas tem que querer olho no olho,
corpo no corpo e muita paciência
pra desenrolar uma conversa cheia
de lonjuras. tem que ter coragem pra vida.
e você, me gostaria?
eu gosto de te conhecer
trabalhador, gente da rua,
gente de casa, gente com grana,
gente sem nada.
eu quero te conhecer.
gente pessoa, gente gato,
gente cachorra. adoro
gente cachorra.
e você, me gostaria conhecer?
sentados num banco, numa sarjeta,
num sofá, nas bordas da cidade.
eu quero te conhecer no centro.
e você, me quer conhecer no talo?
num apartamento, num cruzamento
do olhar. quero te conhecer sendo chato.
e você, me quer conhecer?
não importa onde, só conta mesmo
a curiosidade de saber como a gente
se movimenta.
mas tem que querer olho no olho,
corpo no corpo e muita paciência
pra desenrolar uma conversa cheia
de lonjuras. tem que ter coragem pra vida.
três torres vigiam uma das entradas da zona leste goianiense.
eu que testemunhei a passagem de um peão tangendo o gado nos anos 90, a inauguração dos postes de luz da avenida olinda, a construção da pista de caminhada na mesma avenida, a transformação do pasto que antes nos servia de campo de decolagem e pouso das pipas coligadas em linhas banhadas de vidro e cola; eu que vi o pasto de diversões sendo aos poucos ocupado por casarões e muros de um condominio fechado onde hoje mora o estelionatário Carlinhos Cachoeira, testemunho a passagem do tempo através da paisagem. Três gigantes torres vigiam as janelas da casa de meus parentes, um tribunal de justiça edificado condena e castiga as ruas do bairro água branca, um ministério público transborda de carros a cabeçeira das ruas da antiga periferia e um paço municipal tingido de vermelho pela terra ferruginosa destes pagos, cercado pelas últimas árvores tortuosas de cerrado e solitário nas margens da BR 153 decretam a chegada da modernidade tardia num dos rincões mais roseanos do país. três torres ladeadas de terra vermelha vigiam o vale do córrego água branca e ainda assim as árvores de flor roxa resistem, o mogno plantado pelo pai resiste, a frutaria resiste, os carros de som anunciando picolés a preço de banana resistem, o sol resiste...três torres economico-residenciais vigiam e dormem enquanto vigiam a zona leste goianiense.
eu que testemunhei a passagem de um peão tangendo o gado nos anos 90, a inauguração dos postes de luz da avenida olinda, a construção da pista de caminhada na mesma avenida, a transformação do pasto que antes nos servia de campo de decolagem e pouso das pipas coligadas em linhas banhadas de vidro e cola; eu que vi o pasto de diversões sendo aos poucos ocupado por casarões e muros de um condominio fechado onde hoje mora o estelionatário Carlinhos Cachoeira, testemunho a passagem do tempo através da paisagem. Três gigantes torres vigiam as janelas da casa de meus parentes, um tribunal de justiça edificado condena e castiga as ruas do bairro água branca, um ministério público transborda de carros a cabeçeira das ruas da antiga periferia e um paço municipal tingido de vermelho pela terra ferruginosa destes pagos, cercado pelas últimas árvores tortuosas de cerrado e solitário nas margens da BR 153 decretam a chegada da modernidade tardia num dos rincões mais roseanos do país. três torres ladeadas de terra vermelha vigiam o vale do córrego água branca e ainda assim as árvores de flor roxa resistem, o mogno plantado pelo pai resiste, a frutaria resiste, os carros de som anunciando picolés a preço de banana resistem, o sol resiste...três torres economico-residenciais vigiam e dormem enquanto vigiam a zona leste goianiense.
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