domingo, 24 de dezembro de 2017

(Nossos corpos - Denise Levertov)
Nossos corpos, ainda novos sob
a ansiedade gravada de nossas
caras, e inocentemente
mais expressivos que caras:
mamilos, umbigo, e pentelho
fazem de qualquer forma um
tipo de cara: ou levando
as sombras redondas ao
seio, traseiro, saco,
a dobrinha da minha barriga, o
oco da sua
virilha, como uma constelação,
como se inclina da terra ao
amanhecer num gesto de
brincadeira e
sábia compaixão-
nada como isto
vem a passar
em olhos ou bocas
abatidas.
Eu tenho
uma linha ou ranhura que amo
percorre
meu corpo do esterno
à cintura. Fala de
ansiedade, de
distância.
As suas longas costas,
a cor da areia e
como os ossos se expõem, diz
que céu após o pôr-do-sol
quase branco
sobre a profunda floresta à qual
as gralhas se dirigem, diz.
Saber o nome das coisas não é a garantia de que você as conhece. Isso a gente aprende com a vida, proseando e vivendo com gente amiga. Daí você vai aprendendo que de algumas coisas só se sabe o nome é de outras se sabe algo q não é o nome, algo q diz muito sobre a coisa. Algum conhecido da gente já escreveu sobre isso, mas não importa agora. O q importa é a certeza de que alguns lugares cultivam nomes, outros cultivam sementes e que também existe lugar cultivando tudo isso junto
Estou fora de tudo
Isso de estar dentro é só
Uma excusa
Minha boca está fora
O meu fígado azedo
Está fora.
Estou fora da razão,
Esta razão que domina.
Armadilha.
O real é um troço de bosta
Na cara do bom padre
Do bom cura
Do bom palavrório
O real é a mentira dos
Que acreditam ter razão
SOMA DE MALOGROS NOVES FORA TUDO - Thiago de Mello
Com o desperdício de cores,
selo o fim dos meus amores.
Amor pode ser começo
de si mesmo a cada instante.
Fico no fim que mereço.
Sei que perdi: me apostei
inteiro. Mas aprendi
que não dependo (e ninguém)
só de mim para me dar.
É repartido que posso
vir um dia a merecer
a flama ardendo serena,
que resolve a diferença
entre viver e morrer.
Sei que perdi. Mas ganhei.
um coração grande
vezes roto
vezes cândido
vezes lúcido
um coração pórtico
vezes trouxa
vezes cálido
vezes fora
nove vezes fora
um coração pecado
vezes sujo
vezes tomba
vezes fraco
um coração besta
vezes atroz
vezes boca
vezes tudo
nove vezes fora
todo coração não é um
noventa e nove vezes fora
outras tantas errático
posto
coração
de carne osso
e ferro
extrato do Grande sertão: veredas
As coisas que não tem hoje e ant'ontem amanhã: é sempre. Ai, arre, mas; que esta minha boca não tem ordem nenhuma. Guerras e batalhas? isso é como um jogo de baralho, verte e reverte.
As pessoas e as coisas não são na verdade. A vida disfarça. 
É e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é...Quase todo mais grave criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho, bom pai, e é bom amigo-de-seus-amigos! Sei desses
Só que tem os depois, e Deus junto. Vi muitas nuvens. Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.
Afinam e desafinam.
De Jorge de Sena para Sophia de Mello
Filhos e versos, como os dás ao mundo?
Como na praia te conversam sombras de corais?
Como de angústia anoitecer profundo?
Como quem se reparte?
Como quem pode matar-te?
Ou como quem a ti não volta mais?
Los que no danzan (Gabriela Mistral)
Una niña que es inválida
dijo: ?«¿Cómo danzo yo?»
Le dijimos que pusiera 
a danzar su corazón...
Luego dijo la quebrada:
?«¿Cómo cantaría yo?»
Le dijimos que pusiera
a cantar su corazón...
Dijo el pobre cardo muerto:
?«¿Cómo danzaría yo?»
Le dijimos: ?«Pon al viento
a volar tu corazón...»
Dijo Dios desde la altura:
?«¿Cómo bajo del azul?»
Le dijimos que bajara
a danzarnos en la luz.
Todo el valle está danzando
en un corro bajo el sol,
y al que no entra se le hace
tierra, tierra el corazón.
Palabras soñadas (Leonel Lienlaf - Poeta Mapuche)
Me adentro
en estos cantos de sueños,
dormitando cerca del fuego
mientras afuera
el viento
hace bailar las montañas
Pewma dungu
Konan tachi ulkantun pewmamu,
düngunpewmamu
chonkitunmew kachill kütral
Wekun ta kürrüf
pürulmekefi mawida
dura pouco isso daqui
osso dure mais
duro
Há algum tempo atrás alguém me disse que o gesto, quando bem escolhido, recupera o mundo. Outra voz vinda de algum canto rebateu:
- ou destrói.
Exatamente, respondemos. Realizar o gesto impossível é o que queremos.
Clarice disse: Pão é amor entre estranhos

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

existe uma alegria alucinada no sorriso de quem quase cai com a aceleração do ônibus. começa com um susto, rasga num ai! e se transforma em risada gostosa por ter conseguido se agarrar. quase cair.

primeiro os olhos crescem enlouquecidos no desequilíbrio inesperado. sucede um grito envergonhado pela possibilidade de queda logo transformado num riso gostoso, pois houve tempo de agarrar-se na estrutura interna do ônibus, esta máquina que corre e balança.