quinta-feira, 23 de novembro de 2017

É madrugada e me pergunto
quando perdemos a sensibilidade de ser?
É madrugada e me pergunto
quando perdemos a vontade de ser?
É madrugada e eu
Mudo.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

ceia de natal
sangria.
a imagem que lhes ofereço é a de uma faca e um talho. a imagem de uma melancia vermelha e gelada, sangrando doce sobre a mesa. seu suco viscoso molhando a toalha, aspergindo-se sobre o piso após sangrar como o veio de um rio novo que atravessa mesa. lhes ofereço a imagem das sementes desta melancia sendo trituradas por dentes quebradiços e velhos, dentes de um antigo pescador solitário e hábil. lhes ofereço os restos desta fruta. sua órbita colhida e desaparecida. ofereço a imagem oca desta melancia.
a imagem de cabeças: vazias, sobre a mesa.
viscosas.
um talho. uma faca. cabeças molhadas por um rio velho.
uma faca novamente, hábil e vermelha. lhes ofereço esta imagem, pescada entre os dentes. esta imagem e nada mais.
saúde
ao perder uma coisa
ganhou um trem,
longo louco e que apita
É ave rapaz
Sargaço nas veias,
Sorri uma boca bemaberta
quando defronte do golpe
Recebe e disfarça
na manha:
Sabe que há de chegar a hora:
O instantizinho fatal
sempre vem. Um átimo e pau.
Sorri essa mesma boca bemaberta
Enquanto aos montes
Outros sorriem impunemente;
Sabe que há de chegar o instantizinho, doce e fatal.