quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Não sei mais poema, música nem sistema. Não sei xadrez, não sei ser à vácuo. No mundo simbólico, sou só vacilo. No mundo agora de certas certezas incertezas, sou osso que toma ônibus, que murcha o peito de vergonha de sentir vergonha da vergonha que é ser a marca da morte do mundo. Chega de reclamar, dizem. Os sonhos, por outro lado, dizem. As bocas dizem, os bocejos dizem, as barricadas ainda existem um pouco longe de mim. Admito. Privilégios. Admito.
Demissão. Servente, serviços gerais, atendente do Centro-Oeste e Norte. Displicente, leviano, mórbido, lento. Silêncio. Cada palavra que não cabe na ação é uma hora de sono a menos. 4 da manhã. Semanas de 4h da manhã. Não importa. O problema é universal, pra que falar de si? Fuçar livros e recompor-se. Duvidar dos livros que lê. Só homens? Surrar-se. Sussurar-se. Escrever simples. Difícil. Popular. Relembrar que se é popular. Poupar-se. Não saber usar preposições. Soluçar sozinho, em duo, em grupo. Solapar. Ir solapando sem saber. Desistir e retomar. Silenciar mas também falar. Tomar posição mas também se afastar. Paradoxo ou contradição? Tudo junto? Tomar posição ou ir posicionando-se ou tudo junto? Abram-se mil ouvidos.

 

domingo, 13 de setembro de 2020

 estou selva, fagulha,

filomena nos passos do aço.
estou açude e carrapato do burro. estou.
estou como nunca fui sendo. cortante.
haste de vidro na polpa de seus olhos,
seiva na boca de suas botas. molhadas. sonoras.
arre! foda-se hoje razões e planos,
ezquizemos infinitamente. até o fim sem fim.
um salve. um salve. um salve aos alucinados.
um salve aos que nas esquinas sonham
sem serem incomodados por opiniões.
um salve aos que só são
nas esquinas da cidade,
ilha.
a poesia é sem nome. um alumbramento que não cabe num só jeito. um sonho e só

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Estes limiares entre passado e presente, entre espírito e corpo, entre memória e matéria: dia desses houve algo novo. Como a boca que fala fora do corpo sentimos uma ruptura, presenciamos o descompasso temporal entre a carne e a lembrança. A voz observava de trás o corpo imerso na densidade atmosférica da sala, lugar muito lento. A voz, espírito do tempo, abocanhada pelas torrentes relacionais contemplava impressionada a lentidão da matéria diante de sua emergente necessidade de transformação. A voz puxava o presente-futuro, a novidade, e a matéria teimava em ser vagarosa, estranhava a novidade. Um momento disruptivo, uma cisão foi o que aconteceu. Algo pra ser levado em conta nestes nossos processos de transformação: o hábito ao qual nos agarramos precisa ser desarticuldo cuidadosamente, amorosamente pois os conceitos aos quais eles se agarram já não frutificam mais. Larga esse hábito e recria a existência no fazer com atenção aos mínimos detalhes porque a novidade do mundo já está aí, ainda que a guerra esteja sendo tramada pra gente não ver isso. Repara e vai! É o que me digo dizendo à todes!

segunda-feira, 16 de março de 2020

gente, nunca só gente
nem só gente, nem só bicho, planta ou mineral.
tampouco sou, gente só.
somos.
ainda que só gente,
sempre com.

sempre com mais de um
porque senão,
só não vive.
só e com.
sempre
ou nunca será.