sábado, 1 de junho de 2019

Me afastei disso daqui para não mais alimentar o ódio meu e de outras pessoas. Me afastei para não mais alimentar o desejo de bomba na vidraça do banco, carro virado na via, pedra pra cima da polícia. Me afastei e afastei minha poesia dessa trilha. Agora vejo filas de carros no posto de gasolina e rio; vejo gente estocando coca-cola e rio; vejo gente até hoje apertando os dentes pra reclamar da esquerda e rio. É verdade que rio meio atônito, meio perverso, meio inocente, meio demente. Rio pq sou rio kkkk. Abandonei as farpas, os cacos de vidros, os cabos de guerra, ainda assim, uma porção miúda e antiga me diz guerra, uma outra porção racional me lembra que a disciplina dos dias me garantirá alimento para depois do dia 15, portanto, ria; guerra demanda energia, combustível, alimento. Rio do alto de minha bicicleta de correntes desgastadas. Rio sem computador. Rio sem dinheiro. Rio dos que não riem. Rio com os que riem. Rio até dos que riem de mim. Só não rio do homem dormindo no parque infantil da praça - isso não tem graça. A verdade é que estou ocupado de olhar ossos, músculos, pele e de apurar os sentidos, e de escrever marmotas nas folhas espalhadas pelo quarto e de saber os motivos que levaram a terra do quintal a abrandar sua força. Meio que abandonei isso aqui, veneninho diário. Meio que este será um último texto, abandonado de sanha, abandonado de fúria, abandonado e risonho. Irrisível, enfim.