As roupas que uso são emprestadas:
um estilo ganhado
A biblioteca é de livros alugados:
ideias passageiras
As viagens são feitas de teimosia:
A hospedagem é incerta
Minha casa não é minha:
Os canos vivem entupidos
Sim, sou um capeta endemoniado abrindo espaço em lugares onde dizem que eu não deveria estar. Sou um rasgo no céu, em sismo nas vísceras, uma incompreensível forma de vida desatada em ossos de ferro, carne de ferro, sangue grosso e muito desejo de engolir o mundo.
sábado, 10 de março de 2018
Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes - Alberto Caeiro
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
sabe, não sei
onde deixei o amor
depois que tudo terminou no começo
sei sim
um trem que passa aqui perto
quando nada mais importa
mais do que ser mesmo
sem dor
escuta
sabe que eu
sei bem quando
te dói, sabe?
tá nos olhos, sabia?
sei não,
andam dizendo que amor
é pra tudo
por todos
pra sobrar
saberia eu
amar? saberiamos quando for
amor?
restarei aqui
só
tentando.
onde deixei o amor
depois que tudo terminou no começo
sei sim
um trem que passa aqui perto
quando nada mais importa
mais do que ser mesmo
sem dor
escuta
sabe que eu
sei bem quando
te dói, sabe?
tá nos olhos, sabia?
sei não,
andam dizendo que amor
é pra tudo
por todos
pra sobrar
saberia eu
amar? saberiamos quando for
amor?
restarei aqui
só
tentando.
Um poema bem roubado.
um mundo repleto,
um punhado deles
debaixo do sol: poetas imaturos e poetas ruins.
roubar?
roubar familiares, um caderno
e minha caligrafia
não é o suficiente
um mashup meu, cabeças, é a minha profissão
grotesca e disforme.
roube.
seus pontos fracos e os fortes
serão um bom problema
se eu colocar vida neles.
viva! um mundo repleto,
um punhado deles,
debaixo do sol.
um mundo repleto,
um punhado deles
debaixo do sol: poetas imaturos e poetas ruins.
roubar?
roubar familiares, um caderno
e minha caligrafia
não é o suficiente
um mashup meu, cabeças, é a minha profissão
grotesca e disforme.
roube.
seus pontos fracos e os fortes
serão um bom problema
se eu colocar vida neles.
viva! um mundo repleto,
um punhado deles,
debaixo do sol.
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