06 de março de 2021
O que será que se passa
06 de março de 2021
O que será que se passa
30 de abril de 2019
Estes limiares entre passado e presente, entre espírito e corpo, entre memória e matéria: dia desses houve algo novo. Como a boca que fala fora do corpo sentimos uma ruptura, presenciamos o descompasso temporal entre a carne e a lembrança. A voz observava de trás o corpo imerso na densidade atmosférica da sala, lugar muito lento. A voz, espírito do tempo, abocanhada pelas torrentes relacionais contemplava impressionada a lentidão da matéria diante de sua emergente necessidade de transformação. A voz puxava o presente-futuro, a novidade, e a matéria teimava em ser vagarosa, estranhava a novidade. Um momento disruptivo, uma cisão foi o que aconteceu. Algo pra ser levado em conta nestes nossos processos de transformação: o hábito ao qual nos agarramos precisa ser desarticuldo cuidadosamente, amorosamente pois os conceitos aos quais eles se agarram já não frutificam mais. Larga esse hábito e recria a existência no fazer com atenção aos mínimos detalhes porque a novidade do mundo já está aí, ainda que a guerra esteja sendo tramada pra gente não ver isso. Repara e vai! É o que me digo dizendo à todes!
Pandemia
Florianópolis, 15 de abril de 2020
ei são paulo, terra de arranhacéu! da ponte pra cá é uma paulista que me deixa com receio de tocar as pessoas, que faz das articulações uma fechadura. cheguei caminhando pelo viaduto santa Ifigênia, cai nas bordas da 25 e mudando de rua passei pelo largo da memória. aqui não é salvador. cidade dura. cadê a graça da música de caetano? atravessei o chá, o municipal pra baixar no metrô da república. é clichê mas é isso, gente de todo lugar e minhas articulações continuam apertadas, trancadas. foi em vão saltar no masp, entrada cara. foi decidido que caminharia pela paulista no sentido consolação. primeiro uma mina acompanhada de um saxofonista arraza o passeio cantando rihanna. foda! depois um quarteto: uma violinista negra, um violinista cego, um cellista negro e um cantor jovem argentino e gay mandam uma ópera fodidamemte linds no meio da avenida dos patos. o cantor esbanjando sua feminilidade e a gente babando. ganhou o público! segui. subi no alto do sesc e não achei muita graça em ver um mar de prédio, prefiro o mar de água salgada ou uma montanha no meio do mato. desci correndo pra me encontrar com salvador dentro do centro cultural de um banco que andei dando calote. Era o Ilê Aiyê balançando meu coração e me transportando de volta pra Salvador. Não sou de terreiro mas saí num axé danado. Voltei por onde vim prs encontrar com a Augusta, lugar que nunca me faz sentir graça (desculpa aí habitués de lá). Cheguei na Roosevelt e só constatei um pouco mais da dureza do lugar: gente dormindo no chão, gente bebendo cerveja sem olhar no olho da gente. Saí fora, passei pela Mario de Andrade já de retorno pra estação república. Sem mais, desci na Luz pra pegar a linha azul até a Zona Norte onde dizem que a banca a forte. São Paulo é pro fortes e pro fracos. Tudo parece doer como numa canção do Itamar ou da Gal, ainda assim, fico com o Zeca Pagodinho: vida leva eu nesse 2019 de poucas esperanças na televisão e de muita gente, inevitavelmente, na rua quer queira quer não. Arre!
estou selva, fagulha,
Estes limiares entre passado e presente, entre espírito e corpo, entre memória e matéria: dia desses houve algo novo. Como a boca que fala fora do corpo sentimos uma ruptura, presenciamos o descompasso temporal entre a carne e a lembrança. A voz observava de trás o corpo imerso na densidade atmosférica da sala, lugar muito lento. A voz, espírito do tempo, abocanhada pelas torrentes relacionais contemplava impressionada a lentidão da matéria diante de sua emergente necessidade de transformação. A voz puxava o presente-futuro, a novidade, e a matéria teimava em ser vagarosa, estranhava a novidade. Um momento disruptivo, uma cisão foi o que aconteceu. Algo pra ser levado em conta nestes nossos processos de transformação: o hábito ao qual nos agarramos precisa ser desarticuldo cuidadosamente, amorosamente pois os conceitos aos quais eles se agarram já não frutificam mais. Larga esse hábito e recria a existência no fazer com atenção aos mínimos detalhes porque a novidade do mundo já está aí, ainda que a guerra esteja sendo tramada pra gente não ver isso. Repara e vai! É o que me digo dizendo à todes!